Por: Yuri Silva
Imagine-se andando sozinho por Salvador sem enxergar nada. Agora, acrescente os buracos nos passeios como um complicador para o cumprimento desta jornada. Achou a tarefa impossível? Calma, ainda tem como piorar. Imagine passar por tudo isso sem ter como se guiar.
Não pense que as hipóteses acima são fantasiosas. É essa a rotina que os deficientes visuais da capital baiana enfrentam diariamente. Não bastasse a limitação física, eles ainda precisam contornar o problema de acessibilidade, como a falta de pisos táteis nos passeios.
Da forma como funciona, o equipamento, que deveria auxiliar os deficientes visuais, cumprindo a função dos seus olhos, tem se tornado, na melhor das hipóteses, um complicador para a locomoção na cidade. No pior delas, acidentes são causados.
É o caso da escritora e deficiente visual Jerusa Maria de Souza, 69 anos. Ex-coordenadora do setor de Braile da Biblioteca Pública do Estado da Bahia, Jerusa perdeu o restante da visão que possuía quando tropeçou em um esgoto aberto em cima de um piso tátil, caiu e bateu com o rosto no chão.
Antes do acidente, há quatro anos, a aposentada conseguia enxergar cores, letras grandes e chegava a ler livros inteiros, com a ajuda de óculos especiais para quem tem baixa visão.
O desrespeito às pistas táteis, conta Jerusa, é prática constante no seu dia a dia. Motos, carros e barracas em cima dos pisos é comum.
“As pessoas não cooperam com os deficientes visuais. Além disso, os buracos não ajudam. Se consertassem só a calçada, já melhoraria bastante para nós”, reclama.
Manutenção
O também aposentado Alberto Galvão, 65 anos, contabiliza duas quedas que tomou em piso tátil esburacado, porém elogia a ampliação dos pisos especiais nas calçadas da cidade. “Os pisos táteis foram muito bem-vindos, mas precisam de manutenção”, avalia Galvão.
É fácil encontrar em Salvador calçadas onde esses pisos estão degradados pela ação do tempo, interrompidos por buracos ou simplesmente invadidos pelo comércio informal.
O repórter fotográfico do jornal A TARDE, Marco Aurélio Martins, flagrou o desrespeito. Em frente à Biblioteca dos Barris, um banner dos candidatos Fabíola Mansur (deputada estadual) e Domingos Leonelli (federal), ambos do PSB, foi colocado em cima de uma pista tátil, dificultando a caminhada, sobretudo dos deficientes visuais.
Fora de padrão
É possível encontrar também situações nas quais o tipo de relevo utilizado no piso é inadequado para a situação, levando o deficiente a esbarrar em obstáculos.
O secretário de Urbanismo e Transportes de Salvador, Fábio Mota, afirmou que os pisos que estão fora de padrão são aqueles instalados há muito tempo, em discordância com as normas atuais. Os novos “seguem as regras vigentes atualmente”, observou o gestor.
Ainda conforme o secretário de Urbanismo e Transportes, a Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom) é que fiscaliza a instalação deste tipo de piso.
A prefeitura estima que, desde janeiro deste ano, já foram fiscalizados em torno de 120 km de calçadas na cidade, para verificar o estado não só dos passeios, mas também dos pisos especiais.
Segundo Caroline Vidal, gerente comercial da empresa PEC Pisos, fabricante de pisos táteis em escala nacional, o processo de fabricação e a instalação deste material exigem atenção, para que o deficiente visual esteja sempre bem orientado.
Primeiro, explica Vidal, o piso-base da pista precisa estar devidamente nivelado. Depois, o tipo de piso escolhido é fixado com cola (no caso daqueles feitos de borracha) ou com argamassa (cimento).
“A diferença entre os dois é o uso. O piso de borracha é para uso interno. Já o de argamassa é utilizado nas ruas, sendo mais resistente. Entretanto, os dois são antiderrapantes e orientam”, compara.
Além disso, os relevos aplicados são essenciais para a eficiência do material de orientação. O formato de listas, chamado de piso tátil direcional, indica que o usuário deve seguir reto.
Já as bolinhas (piso tátil de alerta) sinalizam a proximidade de obstáculos, fim da calçada, mudança de direção, entrada de imóvel, início e fim de escada ou rampa etc.
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