terça-feira, 9 de setembro de 2014

Racismo continua a marcar gols no futebol brasileiro

 
 
Por: Larissa Ramos


A história do esporte no Brasil deu seu primeiro passo com a sanção da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888. Não era um contrato milionário como é feito atualmente por grandes atletas, mas sim a abolição da escravatura. O papel assinado permitiu o surgimento de grandes esportistas negros para o País, como Leônidas da Silva (tetracampeão fluminense do Botafogo), João do Pulo (ex-atleta saltador), Robson Caetano (ex-atleta),  Claudinei Quirino (ex
velocista), Daiane dos Santos (ex-ginasta), e Pelé (maior futebolista brasileiro). Se o período de trabalho escravo foi deixado para trás, as atitudes preconceituosas da época ainda são cometidas na sociedade atual, e refletem nas atrocidades cada vez mais recorrentes nas praças esportivas.     
                      
No dia 15 de abril de 2005, um episódio de racismo ficou marcado no futebol brasileiro. O zagueiro Leandro Desábato, do Quilmes, foi detido ainda em campo, após ser acusado por injúria qualificada (ofensa à dignidade de alguém com elementos de raça, cor e religião) contra o atacante Grafite que atuava pelo São Paulo, em partida pela Copa das Libertadores. Na época, o jogador argentino foi liberado dois dias depois após pagar fiança de R$:10 mil.                                                                                                                    
A história do futebol brasileiro contém, ao longo de um século, registros de episódios marcados pelo racismo, e a coisa fica feia quando os atos racistas ganham cada vez mais espaço em eventos esportivos pelo mundo. A Uefa anunciou, no dia 05 de agosto, punição a quatro clubes que estão disputando a Champions League e Liga Europa, todos por conta de atos racistas protagonizados por parte de suas torcidas em jogos.
                                                   
Steaua Bucareste, da Romênia, Debreceni, da Hungria, Maribor, da Eslovênia, todos na Champions, e Chikhura Sachkhere, da Geórgia, este na Liga Europa, terão de fechar setores de seus estádios nas próximas partidas destas competições nas quais forem mandantes. As ações racistas deram-se por meio de cânticos e/ou faixas com frases ofensivas em jogos das fases anteriores.    
                                                                      
O episódio envolvendo o baiano Daniel Alves, lateral do Barcelona, ganhou repercussão internacional, ao comer uma banana arremessada por um torcedor no gramado numa partida do Campeonato Espanhol. A atitude ganhou força nas redes sociais com a campanha #SomosTodosMacacos. O Villarreal, que foi multado em R$37 mil, identificou o infrator e o obrigou a devolver seu carnê de sócio, além de ser proibido de assistir um jogo no estádio El Madrigal.

O racismo no esporte mais popular do Brasil era considerado uma questão abominável, mas exclusivamente "estrangeira". Agora, virou assunto nas mesas de bar, nos escritórios e também nas arquibancadas. O país sempre lidou com o problema do ponto de vista de "vítima", pelo casos de ofensas racistas em campos europeus ou sul-americanos. De repente, o fantasma apareceu "dentro da própria casa".
Os estádios estão sendo palco de manifestações que ultrapassam o nível de aceitação popular. Além dos constantes problemas de violência, os públicos reduzidos e a ameaça de greve por partes dos jogadores, agora o futebol brasileiro ganha um "fantasma" com o qual não esperava ter de lidar.

O árbitro de futebol Márcio Chagas, os volantes Tinga, do Cruzeiro, e Arouca, do Santos, foram vítimas do racismo que ocorreram em território nacional, e que expuseram só agora algo que é mais frequente do que se imagina. Jogadores. técnicos ou árbitros negros ouvem constantemente ofensas racistas dentro de campo.

Um exemplo recente de racismo em campo brasileiro ocorreu na partida pela Copa do Brasil, entre Grêmio e Santos. O goleiro Aranha, do Santos, foi ofendido por parte da torcida do Grêmio com injúrias raciais, uma torcedora gremista foi flagrada pelas câmeras de transmissão de TV chamando o goleiro de "macaco", após o ato de racismo ser espalhado na internet, Patrícia Moreira foi afastada do trabalho em Porto Alegre. E com punição, o Grêmio foi excluído da Copa do Brasil após o julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

“É lamentável que ainda no século XXI ainda temos que conviver com atitudes desprezíveis como o racismo. Sem sombra de dúvidas é algo que deveria ser banido, não só do futebol, como de toda a sociedade, mas infelizmente é algo que insiste em acontecer por causa de pessoas totalmente sem noção”, conta Elder Santana, atacante da categoria de base do Atlético Mineiro, que sofreu preconceito racial quando ainda jogava pelo Morrinhos Futebol Clube, de Goiás, pela torcida do time adversário em uma partida. “Nunca vou esquecer daquele momento terrível, não desejo a ninguém, é um sentimento de inferioridade que impõem a você, mas graças a Deus já superei e tento não pensar no que eu passei”, salienta.

Um projeto de lei criado pelo Deputado Federal Alceu Moreira tramita na Câmara dos Deputados, em Brasília, e pode se tornar o primeiro grande passo para acabar, ou pelo menos diminuir, o número de casos envolvendo racismo no Brasil. A proposta prevê punição de cinco anos e proibição de frequentar eventos esportivos para autores de racismo, se ele for ligado a um clube, a pena terá acréscimo de 30%. Se for um estrangeiro, ocorrerá a deportação do indivíduo. Caso o crime seja cometido por servidores públicos, dirigentes ou funcionários da entidade esportiva ou membro de torcida organizada, a pena ainda pode aumentar em um ano e oito meses.

O projeto de Moreira está sob análise da Comissão de Direitos Humanos da Casa e, para se tornar lei federal, precisa ser aprovada também pelos plenários da Câmara e do Senado e, enfim, ser sancionada pela Presidência da República. O texto deve ser analisado ainda pela Comissão de Constituição e Justiça. A expectativa é que seja votado ainda este ano.

 

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