quarta-feira, 5 de novembro de 2014

As redes e suas implicações sociais e emocionais

Por Hugo Leite

O relacionamento interpessoal ganhou novos contornos a partir das ferramentas de interação que a internet nos apresenta. Se antes os fatos podiam repercutir pela vizinhança, ou até mesmo aos ouvidos de todos no bairro, agora as redes sociais fazem nascer polêmicas em poucos segundos, com abrangência até mundial.

O fascínio que as redes sociais desperta é proporcional à desinformação dos usuários, que no afã de publicar e compartilhar informações, ferem o direito do próximo, muito em função do desconhecimento dos termos de uso de cada rede.

Segundo a coordenadora do curso de Direito da FTC Feira, Geruza Gomes, não há um controle legal para punir os usuários infratores.

“As pessoas agem nas redes sociais acreditando que não serão identificadas e também contam com uma legislação cibernética incipiente”, diz.

Porém, com os diversos casos relacionados a crimes digitais, o Congresso Nacional aprovou no fim de 2012, a inédita lei 12.737/2012, que faz referência a crimes virtuais. Em vigor desde 03 de abril de 2013 e conhecida como lei “Carolina Dieckmann” – A lei não possui relação direta com o caso, mas o avanço das discussões do projeto coincidiram com o vazamento de fotos íntimas da atriz na internet – a legislação tipifica como crime pontos importantes da segurança digital, como a invasão de computadores ou dispositivos móveis de terceiros, conectados ou não à Internet, para envio de vírus e acesso a dados sem autorização.

Como terreno informal, as pessoas também costumam propalar fatos inverídicos e disseminar o disse me disse, numa onda de profusão de informações sem fontes confiáveis e nem apuração do ocorrido. Assim, acabam espalhando o medo, como no caso da célebre invasão marciana divulgada por Orson Welles, em uma rádio americana, no começo do século passado.

Perseguições na rede

Capaz de mobilizar milhares de pessoas em torno de uma causa digna, como nas manifestações de junho do ano passado no Brasil, as redes sociais também têm mostrado o poder de gerar perseguições racistas e discriminatórias, chegando a formar grupos com esse tipo de perfil.

Pensamentos xenófobos, homofóbicos e de intolerância religiosa ganham espaço nas redes sociais, onde muitas vezes não há um filtro capaz de restringir esse tipo de ideologia.

“A falta de cultura que toma conta da sociedade dá vazão a essa onda de ideias e correntes discriminatórias, que se espalham pelo ambiente virtual. Essas novas ferramentas virtuais são apenas facilitadoras do que sempre existiu,” argumenta a coordenadora.

Além da veiculação de preconceitos, a dignidade dos usuários tem sido atingida por meio da circulação de imagens e vídeos íntimos, que em alguns casos, chegam a causar suicídio entre os jovens expostos a esse tipo de repercussão na rede.

A coordenadora do Serviço de Psicologia e Clínica Escola da FTC Salvador, Laiz Cardozo, fala sobre os danos emocionais que podem ser causados pela exposição excessiva nas redes sociais.

“Estamos numa sociedade intimamente ligada à exibição e a rede social é um instrumento forte no processo da coisa privada se tornar pública. Nesse cenário, as pessoas perdem o limite entre os dois campos e acabam comprometendo suas vidas sociais por compartilhamentos de documentos pessoais”.


Ela também comenta as possíveis implicações emocionais. “As consequências variam de pessoa para pessoa, mas os sintomas mais comuns de uma repercussão de imagens ou vídeos indesejados são crises de ansiedade e até um quadro de depressão,” explica Laiz.

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