domingo, 23 de março de 2014

Brasil nas ruas: internet é o canal





Elson Barbosa 

O que a tevê não mostra, a internet escancara. A medida que se aproxima a Copa do Mundo, cresce  a ameaça de novas manifestações de rua e a expectativa em relação à cobertura da imprensa. O crescimento do uso da internet, nas redes sociais, tranquiliza quem teve alguma decepção com o noticiário das manifestações em 2013.

O estudante de Direito, Marcos Pereira, presente nas ruas, diz preferir a internet, por garantir a liberdade de expressão. “ Este ano, havendo manifestações estarei lá, juntamente com aqueles que estão cansados da manipulação, e exigem mudança”, disse.

Outra manifestante, a empresária Júlia Andreata, não confia na mídia convencional, seja rádio, tevê  ou jornal."Os cartazes diziam tanta coisa bonita, mas quando a gente via a televisão, só falavam em vandalismo, vandalismo, vandalismo, mostrando imagens de quebra-quebra", disse. "Muito melhor entrar no facebook e ver as pessoas postando o que eles escondem".

Um dos jornalistas mais experientes em atividade, Paulo Henrique Amorim, revelou sua indignação  no site Conversa Afiada: "em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e de uma única rede de televisão, têm a importância que têm  no Brasil". Amorim afirma que a mídia no Brasil tem a força de um partido político.

PLURALIDADE

Segundo o pesquisador de mídia e política, Luiz Costa, da Universidade Federal do Tocantins, o tom geral do noticiário é de campanha contra os manifestantes. "É como se as reivindicações servissem apenas depretexto e os manifestantes fossem reduzidos a marginais", disse o mestrando em Comunicação, a partir da análise do discurso de 45 telejornais, que foram ao ar, no período de 15 a 28 de junho de 2013. "O resultado disso provavelmente induz a uma opinião pública que apoia as forças da repressão para dar um basta aos tumultos".

Um destes prováveis telespectadores é o aposentado Pedro Leandro, 80 anos. "Tem de botar esses baderneiros na cadeia", disse. "Não se pode admitir este tipo de ação, agora que o país vai sediar uma Copa do Mundo".

A professora do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), cineasta Ceci Alves, defende a pluralidade como um princípio básico da produção de conteúdo. "A população não se deixa ser manipulada como nos tempos passados, hoje é possível ver pessoas de mente aberta, que escutam todos os lados sobre determinado fato", disse.

Para Ceci, na edição do noticiário, "os veículos de comunicação sempre estarão presos ao que lhes é relevante ou gere qualquer tipo de proveito".

REFLEXÃO

O professor de Sociedade e Tecnologia da Unijorge, e editor deste blog, jornalista Paulo Leandro, curte o fato de as pessoas procurarem se informar via web. Para ele, esta busca é mais um resultado positivo da cultura da liberdade que caracteriza, organicamente, a arquitetura horizontal da internet, o 'não-lugar onde ninguém manda em ninguém', conforme sua peculiar definição.

"A publicação online do que não passa na mídia convencional deixa a produção de conteúdo em questionamento ético constante e causa indignação quando se percebe uma tendência oculta ou explícita na representação da realidade que muita gente viu junto", afirmou. "A mentira e o exagero são logo percebidas porque muita gente testemunhou ou participou do que estão vendo na tevê ou lendo no jornal".

Leandro é categórico, ao propor uma reflexão sobre a encruzilhada em que a mídia 'normal' se meteu: "Das duas uma: ou os jornais passam a representar as manifestações com mais pluralidade, dando voz a todos os segmentos, e mostrando tanto as ações pacíficas e positivas, quanto as ações violentas, ou vão perder cada vez mais audiência, porque obviamente as pessoas vão querer se informar pelas redes sociais, porque assim recuperam a credibilidade que a mídia vem perdendo"





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